Dou-lhe cem anos de vida,
pelo tamanho que você tem.
Dou-lhe o título de rei da mata,
pelo poder que sua imponência
me faz crer.
Meu querido jequitibá,
tire logo a minha dúvida.
Diga quantos anos tem!
Fale-me de meu bisavô!
Ainda se lembra de meu canário chapinha?
E do bando de andorinha?
E dá cantiga da passarada?
E do sabiá que cantava em seus galhos?
Por causa de seu porte gigantesco,
nem mesmo o menino travesso
conseguia lhe escalar.
O gavião que reinava no sitio da vovó
fez de seus galhos um mirante.
Pobres passarinhos!
O gavião mirou por anos a fio
em sua grimpa, para caçar
o alimento para seus filhos que cresciam,
querendo sua espécie perpetuar.
Em seus pés meu avô, certo dia, adormeceu,
contando histórias sobre a
vida de um jequitibá e
adormecera para sonhar em
perpetuar a própria vida.
Ele queria eternamente te olhar.
Os braços do meu avô,
nunca te abraçaram totalmente,
talvez nem os braços de meu bisavô.
Acho mesmo que você é milenar.
Que Deus lhe dê vida eterna,
para meus netos, meus bisnetos,
meus tataranetos... poderem esboçar o
prazer de lhe ver e com você entreter.
Ó meu querido jequitibá!
Um Sabiá que cantava aqui na cidade
lembrou-me da capoeirinha
que tem nos fundos da casa grande;
Ele cantava alegremente,
no pé de abacate da rua da frente.
Parece que cantava. Acho que cantava sim.
Salvo, se era choro aquilo que expressava.
Era um sabiá fujão,
era um sabiá despejado da mata.
Parece que onde morava ainda é mata, sim.
Salvo, se virou cinza,
aquilo que antes era uma mata.
Ele cantava muito bonito,
no topo do pé de abacate da rua em frente.
Salvo, se ele chorava com a voz do canto,
pelo seu habitat queimado, acabado, para sempre.
O canto do sabiá era lindo demais,
parecia com um que cantava na
fazenda do vovô.
Lá tem uma matinha bonita,
salvo se lá ainda não virou pasto para gado.
Ele mora na cidade,
salvo, se é apenas um sabiá de rua.
Um bichinho que vive alegre,
como alguns meninos de rua que conheço,
que insistem em viver,
cantar e sonhar Apesar dos pesares.