Eu vi uma beleza exótica
soar nos céus de Goyaz;
senti o revoar de um exército de espíritos,
senti cheiro de poesia no ar.
Vi Cora por inteiro,
num voal,
seu retrato com imagem sem igual.
Ouvi a voz de Sua Majestade
no som das águas claras
do Rio Vermelho.
Era Cora,
era Cora Coralina,
por inteiro.
Ouvi, sei lá,
senti sei lá o que,
o revoar para lá
e para cá,
do espírito do Criador,
do espírito sonhador.
Vi Goyaz por entre as serras,
por entre as terras,
passar pela minha cabeça.
Senti minh’alma incandescente,
frente a arte do Bandeirante,
homem gigante!
Vi Cora Coralina,
sua melhor representante.
Cora que numa noite
arrepiou-me no teatro,
vi sua voz na boca do ator,
ouvi sua poesia na voz do cantor.
Em Goyaz Velho ouvi nas
águas do Rio Vermelho,
partituras de seus poemas,
era Cora por inteiro.
Oh, Cora. Coralina!
Quanta poesia foi para o éter!
Quantos anos oprimida!
Forçada a outras lidas.
Do esposo era sua vida.
Cora Coralina,
quanto poder!
Em apenas um pedaço
de seu viver,
gritou para o mundo,
quase de forma silenciosa,
de forma amorosa,
ansiosa, honrosa!
Meu peito reclama os
anos que você não imprimiu
seus poemas, seus sonhos.
Meu coração sente
sua partida prematura.
Pequena vida para tanta genialidade.
Que saudade!
Do livro Pedaços de Alma