Amanheci sonhando acordado.
Sonhei que jogava um jogo,
Para o qual a bola era um instrumento.
Também havia raquetes naquele jogo.
Éramos dois a jogar, depois três,
Depois quatro, depois cinco, depois seis...
Mais tarde alguns milhares.
A idade do mundo aumentando,
A população se agigantando,
A terra tornando-se estreita,
A ambição se dilatando,
As raquetes se escasseando
E a bola se desgastando.
Até que um dia éramos milhões.
Pela teimosia da minoria,
Jogávamos sempre aquele jogo,
Sempre que um time ganhava,
O outro time perdia.
O jogo que a gente jogava,
Ficava mais forte a cada dia.
O que sempre ganhava ficava viciado,
Quando frustrado se enfurecia.
O que sempre perdia se entristecia,
Outras vezes virava bicho – bicho vexado!
Até que um dia alguém chegou,
Pedindo para mudar o jogo,
Sugerindo uma ideia nova:
Conservaria os instrumentos,
Só mudaria o jeito de jogar,
Se o jogo fosse aceito,
Os dois lados iriam ganhar.
“ Jogo que ninguém perde, não é jogo”.
Isto é imbróglio – embrulhada, amigo.
Distribuam mais raquetes,
dividam as turmas!
Saquemos com precisão!
Vamos pessoal!
Você, você, e tu também!
“Mas chefe, o jogo está mal dividido.
Se de um lado só têm ricos
Do outro só têm pobres, é injustiça.
Está tudo muito desigual.
Onde mora a justiça social?”
“Mas que jogo você propõe?
Diga o nome desta coisa,
Mas não me venha com imbróglio.
Jogo é jogado, ganhado. E pronto!.
Entendeu o que eu quis dizer?”
“Vou falar de minha proposta,
Mas vejo que tá difícil.
De tanto jogarmos tênis,
A bola se deformou,
Só com a união global,
Ela pode voltar ao normal.
Vamos lá?
Vamos tentar?”
Após jogarmos por anos a fio,
O chefão propôs conversar,
Mas dizendo que jogo que é jogo,
Que após cada certame,
Alguém o troféu tem que levar.
Mas o tempo foi passando,
A multidão se acostumado
Ao jogo onde todos ganham.
Bem no meio do certame,
Alguém descobriu um jeito,
De a bola reformar.
Com a situação muito complicada,
Alguém passou o meu recado
Para todo o globo terrestre.
Pedi para chamarem os meninos:
Os da Etiópia, os do Haiti e os daqui,
Para nos ajudarem nas grandes jogadas
Deste jogo que não é bem jogo,
Mas que precisa ser jogado.
Vieram todos para o torneio,
Homens do outro lado do mundo
E os humanos do lado de cá,
Deram nome para a brincadeira,
E chamaram-na de amistosa.
Amistosa!
A palavra fez a diferença.
Acabou com a malquerença.
Caíram as regras antigas,
Não é mais tempo de sacar e cortar,
Precisamos da ajuda mútua,
Para a bola levantar,
Para a bola não cair,
Para mantê-la no ar,
Não deixá-la se estragar.
A diferença está nas palavras,
Nos discursos, nas opiniões,
Nas ações,
Nas atitudes da multidão,
E de todas as nações.
Agora somos milhões
Jogando em todos os cantos da terra.
Acabamos com o jogo de tênis,
Passamos para o recém-criado,
Com seu nome diferente.
Agora é Frescobol!
Frescobol!
Frescobol!
Distribuam mais raquetes,
Ninguém mais vai derrubar a bola,
Ninguém mais ofendê-la,
Ninguém vai ferir o globo,
Porque agora é frescobol,
A palavra da diferença.
É a diferença
É a diferença...
É só sonho, mas é frescobol – o jogo do entendimento.
Que o globo terrestre não continue sendo bola de tênis!