Enclausurado neste recinto, vejo as nuvens a se movimentarem e pequenos pássaros a sobrevoarem o espaço aéreo da cidade. As nuvens se transformam em quase tudo que o infanto de minha mente deseja ver: carneiros, coelhos, castelos, algodões doces e outras coisas fantásticas que aos poucos vão se transformando para virarem quaisquer desejos meus.
Os pássaros contrastam com a vermelhidão do céu que o sol artisticamente transforma em desfiladeiro de puro ouro incandescente.
Ao cair da tarde os pássaros voam com jeito de quem vai dormir e eu fico por detrás destas grades com a sensação de quem vê o jogo pela fresta do alambrado, que só permite-me entender detalhes da partida num pequeno pedaço do estádio.
Aos poucos as nuvens vão sendo pintadas com a cor escura; certamente, o artista invisível iniciou a tarefa de produzir a noite e eu aqui vou me desenergizando para dormir, porque nesta cela o mundo se apaga no exato momento em que sua imagem começa a não ser reconhecida na escuridão do cárcere e do meu mundo subjetivo, dando-me a impressão de que a qualquer momento vou lhe perder para sempre ou lhe agarrar pela imagem para morar comigo neste canto penal.
Mundo, restrito mundo!