Zé Boiadeiro era um daqueles homens que nascem com o pedigree para campear gado. Em 1917 emitiu seu primeiro choro e, para saber se o menino tinha saúde, dizia a lenda, era preciso chorar e, para isto, recebia uma palmada - ferindo o que hoje chamam de "lei da palmadinha".
O pai de Zé Boiadeiro, homem da roça, de pouca instrução, porém inteligente, ao escutar o choro do Zé, gritou lá da sala: "Esse moleque é bão, chora forte como o berro de um touro; vai ser boiadeiro se Deus assim permitir!"
Zé Boiadeiro pareceu entender a ordem de seu pai e, ainda bem menino, montou pela primeira vez no lombo de um burro da fazenda, puxou a rédea com aquelas puxadinhas de adestrador e deixou claro para o Senhor Antônio que a profecia estava se cumprindo.
Zé Boiadeiro nasceu forte como pedreira, sensível como a poesia, e se deixou crescer como ordenou a lei do pai.
Então:
Cumpriu a sorte,
Tantas vezes viajou pro norte,
Tocou grandes boiadas,
Nunca tirou os pés da estrada.
Soltou o som do aboiar,
Arranchou em mundos e submundos,
Dançou com lindas caboclas.
Montado em seus burros adestrados
Foi deixando às margens da estrada,
Seu mito e seu rito,
Seu porte turbulento e
Suas poesias veladas.
Zé Boiadeiro, um homem destemido
Que viveu na região leste,
Num lugar chamado Boqueirão das
Minas.
Hoje o som de seu berrante ainda vibra
No ar daquele lugar.
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