No dia 27 de março de 2009, visitei o centro histórico de São Luís e preferi fazer o percurso de carro porque ainda não conhecia o lugar. O motorista contratado mostrou ser um bom informante, mas algumas de minhas perguntas pareciam tão embaraçosas para ele como eram também para mim:
· “Por que estão deixando o Centro Histórico de São Luís acabar desta maneira?”
· “Quem está deixando estes monumentos caírem desta forma como se eles não tivessem nenhuma importância?”
· “Por que será que nem mesmo arrancam o mato que nasce em cima dos telhados e das paredes destes prédios?”
Responder ele respondeu, mas não de forma tão convincente porque, como eu, ele também não parecia entender tamanha atrocidade com as construções que os portugueses fizeram com tanto capricho, mas tentou explicar como eu também tento explicar certas coisas de vez em quando. Falou de dinheiro público mas não soube dizer para onde vão as verbas que deveriam ser usadas para conservação dos monumentos; falou de políticos mas não soube falar nomes, porque, como eu, ele também não sabe a quem recorrer na hora da morte de um monumento, principalmente porque os monumentos não morrem subitamente – a agonia deles é crônica e toda cronicidade parece normalidade. As escoras de madeira que os mantém de pé funcionam como o remédio que se dá a um doente terminal para prolongar sua vida. Disse saber que a UNESCO anda ameaçando retirar do Centro Histórico de São Luis, o título de Patrimônio da Humanidade, isto se os brasileiros continuarem deixando em agonia tantas obras de arte; falou de forma crítica e mostrou a mesma impotência que eu frente a algo que morre sem sabermos aonde buscar socorro.
Achei que nosso anfitrião ficou um pouco entusiasmado ao perceber que nós também nos indignamos com tanta omissão, que também nos estarrecemos quando vemos a terra se transformando em deserto por falta de uma boa ação, quando vemos um Centro Histórico de qualquer lugar se transformando em algo tão desorganizado e castigado da forma que o lugar não merece; nos sentimos inconformados quando vemos desaparecer algo que tem vocação para durar para sempre e contar a historia da humanidade para nós e para nossos descendentes.
Pensei e até disse que ia apenas colocar neste site as imagens que tive o desprazer de fotografar, para que cada brasileiro pudesse criar sua própria crônica, mas se “navegar é preciso”, preciso é também dizer verdades que as fotos não conseguem mostrar – nosso estado emocional frente ao abandono de um tesouro que nos pertence.
Deixei minha criança fluir para poder fazer mais algumas inocentes perguntas:
· “A quem de fato pertence o Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro?”
· “O dono de um casario é que deve conservá-lo ou é o governo que deve zelar por ele, já que dependendo da reforma os gastos chegam a cifras monumentais?”
· “Por que a UNESCO não arruma um jeito de criar fundos permanentes para constantes reformas no Patrimônio Histórico do mundo”.
· “Por que os responsáveis pela conservação daquelas e de outras obras de arte do mundo não mantém permanente vigília sobre estes tesouros para que eles sejam reparados ao menor sinal de desgaste, tão comum em monumentos que estão permanentemente sob a ação do tempo?”
Para finalizar devo parabenizar o Maranhão por possuir tão belos e importantes pontos turísticos, como é o caso dos Lençóis Maranhenses e do Rio Preguiças, locais onde fizemos prazerosos passeios e admiramos a fibra daqueles que conseguem fazer cumprir as leis de preservação da natureza.
Também seria injusto não dizer que admiramos alguns monumentos que em detrimento da maioria das construções antigas foram preservados pelo Poder Público. Isto mostra que com vontade política de todos e a força daqueles Leões que guardam o Palácio do Governo do Maranhão todo o Centro Histórico poderá ainda – antes de sua morte total – voltar a ser tão bom quanto o era quando os portugueses o construíram.