Após anos e anos criando centros e periferia de cidades, os homens acabaram se enrolando. A tendência do grupo mais poderoso e mais rico é construir a cidade formando anéis: Na região mais central (com algumas exceções), moram os mais ricos, depois vem uma classe socioeconômica um pouco menos favorecida, porém bem arrumada financeiramente, depois a classe financeiramente menos dotada, sendo a menos favorecida; aquela que mora onde costumam chamar de cinturão da miséria. Mas será que esta criação é proposital? Talvez não, talvez sim, mas o fato é que ela acontece, talvez por omissão, desejo de dominação ou por enorme distração dos Governos. Os mais pobres acabam sempre em pontos muito distantes do centro da cidade.
Mas de vez em quando as coisas não funcionam como planejam e os opostos acabam se atraindo. A política pública de habitação nunca favorece aos menos dotados financeiramente, enquanto os mais ricos podem arcar com o preço da especulação imobiliária.
Mas quando organizados em grandes grupos, os mais pobres acabam ganhando poder de pressão, só que não conseguem pressionar politicamente ou financeiramente, daí eles passam a exigir seus direitos, usando o poder do grito, porque o grito toda pessoa em situação desfavorável tem. Os ricos usam a força do dinheiro ou do poder político, enquanto os pobres sem dinheiro e sem força política acabam usando a força de quem precisa fazer face à desigualdade social. Eles acabam praticando a invasão de terra.
Agora os que antes eram os mais frágeis tornam-se mais poderosos e com muitos votos juntos calam os figurões políticos exigindo o que é necessidade de todos: um lugar para se morar. Agora, exxxxxpertamente, os políticos passam a utilizar de seus argumentos de cunho social como que reconhecendo a necessidade do grande grupo. Surge também aquele discurso demagógico: “Meu governo vai governar para os pobres”. E tem gente que acredita. Já vi até governador ganhando altos prêmios por urbanizarem favelas, aquelas favelas que nem deveriam existir; surgiram por omissão do próprio governo.
E o ocupante do posto maior sempre diz que herdou o caos, para justificar sua inércia.
Se a classe pobre fosse tratada de forma politicamente adequada, ela aceitaria morar um pouco mais longe para morar em um lugar seu, com a infraestrutura necessária para viver com saúde e educação. Mas se ela espera por tempo demasiadamente longo, sem a postura que esperam do governo, usam a força e invadem bem perto do poder, encostado na classe mais rica, como ocorreu no Rio de Janeiro. A favela vira samba, o mundo simpatiza, o governo continua se omitindo e o que deveria ser resolvido no cotidiano, vira guerra de pobres contra e vice-versa. Pelo menos nisto posso dizer que vezes os opostos se atraem.
E agora? Agora é tarde para tentar organizar e para sempre o governo vai ter que usar a força ou outro amargo remédio que não cura nem mata, apenas torna o problema cada vez mais crônico. Ou melhor, às vezes mata, porque um grande território mal organizado e mal governado, gera muita violência e cada um quer fazer sua própria lei.