Fui a uma exposição na Casa da América Latina, no dia 4 de agosto de 2009 e, como havia sido convidado por um dos artistas expositores, subi para o segundo andar, lá me sentei e lá fiquei com mais duas pessoas que foram minhas companhias naquela mostra da Arte contemporânea.
Enquanto falávamos da arte ali exposta, entra porta adentro uma senhora de uns quarenta e poucos anos de idade e nos interpela: “Onde está a exposição? Cadê as pessoas?” Ao que respondi: “É ali Senhora, naquele salão”.
Ela adentrou o salão indicado, mas em menos de um minuto retornou dizendo: “Tiveram a coragem de mandar convite para a Embaixada me convidando para uma exposição, eu venho e é isto?”
Outra senhora, a que estava em minha companhia, gentilmente se levantou e desceu com a “felina mulher” até o andar inferior onde havia outra parte da exposição e ouviu dela uma verdadeira ladainha: “Saí da Embaixada, enfrentei o transito da cidade, perdi meu telejornal, perdi minha novela e aqui estou para nada, isto é um absurdo!
A interlocutora que a acompanhou, ouviu seu monólogo e, em meio a insistência daquela senhora em falar mal dos organizadores, deixou-a sozinha, fisicamente sozinha, porque sozinha ela já falava.
Passado o episódio, quando a referida senhora já havia se retirado, passamos a discutir e, desta vez com várias pessoas que também foram ali para apreciar a Arte Contemporânea. Claro que em meio a tantas conversas, a referida pessoa, foi bastante comentada. Então fizemos vários questionamentos:
· Por que certas pessoas não se permitem pensar?
· Por que algumas pessoas se zangam tanto quando o que encontram não é exatamente o que esperam?
· Por que a frustração, às vezes coisa fácil de enfrentar para muita gente, faz pessoas tão letradas e aparentemente inteligentes reagirem assim, como serpentes acoadas?
· Por que nós humanos temos tanta dificuldade para apreciarmos o vazio que nos causa os espaços não preenchidos no salão de exposições, pelo artista?
· Por que depois de adultos, quase não somos mais capazes de embarcar em nossa própria fantasia para criarmos algo no espaço que o artista nos deixa de vez em quando?
· Por que quando não encontramos o convencional, às vezes não temos mecanismo suficiente para evitarmos a queda na rampa do inesperado?
O certo é que, quando as paredes do artista estão cheias de quadros com coisas bem conhecidas, ficamos – salvo as exceções – à vontade, porque nada precisamos construir.
Sobre aquela mulher, que denominei “felina” – salvo as coincidências da vida – não devo encontrá-la mais em nenhuma outra exposição, pois ofendida pela liberdade que lhe deram para pensar e criar, terá receio de quaisquer coisas que lhe faça lembrar a Arte Contemporânea – se é que percebeu que visitou algo sobre Arte Contemporânea.
Mas aqui faço uma ressalva: Não temos tanta culpa se as escolas não nos instruem adequadamente sobre Arte. Isto nos faz enfurecer (às vezes) frente a qualquer coisa que não seja as falsas tarefas normalmente realizadas para uma matéria acadêmica pouco valorizada pelas instituições de ensino – salvo algumas exceções.