O BÊBADO E O CAVALO
Desceu a serra alegremente cantando músicas de minha terra; apressado para chegar à cidade, golpeava o cavalo sem dó nem piedade. Parou para matar o bicho na venda do pé da serra. Agora, embriagado, ele sorria, ou melhor, gargalhava! O modo como golpeava o cavalo indicava que havia perdido a capacidade de julgamento.
Cantava as mulheres que moravam à beira da via; após o costumeiro gingado, jogando a cabeça para a esquerda e para a direita, caiu bem no meio da estrada; seu cavalo, acostumado àquela tarefa quase diária, parou, cheirou seu comandante e, ali ficou, sobriamente, vigiando seu dono que dormiu profundamente até de manhã.
O cavalo não falava, mas o homem do caminhão do leite dizia que o compreendia perfeitamente. “O cavalo falava, ninava o homem; adestrado pela rotina de seu Pedro, aprendera a acolhê-lo e a defendê-lo, trocando o papel de comandado pelo de comandante”.
Já é de manhã e lá vem de novo Maria Tereza à caça do marido, agora não mais embriagado, mas com a mesma ressaca de sempre.
Pobre Maria Tereza, a cabocla que não consegue mais viver sem a embriaguez da embriaguez do marido!