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31/ago/2010

Itabira - pedra dura?

Autor(a): Jason Jair Frutuoso

Itabira - Estátua de Carlos Drummond de Andrade

O nome Itabira quer dizer pedra dura, mas as histórias que ouvi e o que vi naquela cidade, em minha recente visita, me fizeram crer que as pedras de lá não são tão duras assim. Foram muito duras apenas do ponto de vista dos índios, que há muito tempo atrás habitaram aquelas terras. Eles tinham motivos para acreditar no poder das pedras.

Do meu ponto de vista, as pedras de Itabira são menos duras que as poesias de Carlos Drumond de Andrade. Penso assim por saber que o enorme Pico do Cauê sucumbira aos recursos tecnológicos da Companhia Vale do Rio Doce e que a poesia de Drumond jamais sucumbirá. A poesia não se curvará jamais ao capitalismo nem a quaisquer outros regimes, porque ela é feita de ingredientes importados do mundo interno do poeta – da alma humana – e há de durar para sempre.

A grande montanha de pedra dura foi aos poucos, ao som das máquinas, transformando-se em pó, que sob a ação de homens inteligentes e de homens nem tão inteligentes assim, viraram barras de aço: grandes, pequenas, finas, espessas e em mais uma infinidade de produtos industrializados – esses, importados pelo Brasil a preço infinitamente superior ao do minério bruto levado pelos importadores do Pico do Cauê.

Em contraste com a passividade da montanha temos a poesia que, oriunda do mundo interno do poeta, jamais se deixará dividir e subdividir, como ocorrera e ainda ocorre com aquela grande montanha de pedra dura ( ita bira ).

Fato é que o mestre Drumond eternizou a poesia e a poesia eternizou Drumond.

A poesia deve estar tão prazerosa com o deleite dos leitores quanto sentira Drumond por saber que, com sua genialidade construiu o encanto para o mundo.

Drumond e o aço

Drumond foi veementemente contra a destruição da natureza que, em troca, exala seus versos poéticos até na matéria bruta dos morros de Itabira. 

Hoje, alguns dias após percorrer a cidade de Itabira, confesso que minha mente leiga fora tomada por pensamentos que transcendem o que vi. Então me vêm varias questões:

Por que meu guia se sentia feliz ao mostrar a grande cratera com o que restou do Pico do Cauê, o que chamou de casca do pico, após anos e anos de destruição?

Por que será que meu guia contou, sem qualquer crítica ou lamentação, que um mar de lama escura que vimos lá da sede da fazenda que pertenceu à família de Drumond, não era a lama que pensei ser e sim um produto de exportação? Que aquilo será mais tarde as ferramentas que importaremos da China e de outros países que aos poucos vão levando o Pico do Cauê ? – Talvez porque, cônscio de que seu emprego, sua qualidade de vida e até o carro no qual leva o turista para o city tour, são frutos de tudo aquilo: do conflito entre o ferro e a poesia.

Por que as poesias de Drumond foram transcritas naquelas placas de aço espalhadas por toda a cidade, para em meio à ferrugem encantar as pessoas? – Talvez um suborno da mineradora ao poeta, dando-lhe suporte para inibir suas reações; uma forma de reparação ao desgaste que causara a Drumond destruindo sua terra, destruindo literalmente seu terreno e até um pouco de sua alma, ou ainda, simplesmente a Vale quis investir na cultura, criando uma parceria entre o ferro duro e a maciez da alma poética.

Uma coisa ficou clara para este leigo que se encantou com Itabira: devastaram a montanha, mexeram e remexeram a alma do poeta, deixando-o com aquele ar depressivo, mas por tudo isto a cultura de Itabira está cada vez mais explícita e mais forte.

O aço continuará a correr sobre os trilhos do trem de ferro e a poesia continuará enchendo o mundo com sua essência.

E Itabira?

Enquanto durar sua natureza bruta, continuará tendo um corpo de aço a envolver uma alma poética.



Foto: Lúcia Lana

 
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