Quem será aquele homem? Um sonhador? Um missionário? Um ser alegre? Um ser perdido?
Há muito tempo venho pensando naqueles homens, em sua grande maioria negros, que vivem andando pelas estradas do nosso país. Pela beira do caminho expressam um mundo diferente, não sei se bom, não sei se ruim. Só sei que sou um pouco intrigado e um pouco fascinado por esse ser caminheiro que certamente se retirou de seu meio familiar para bordar seu mundo particular, um mundo móvel, onde a lei social quase fica à margem. A voz de seu coração, provavelmente nunca foi ouvida por ninguém. Só fala para ele próprio, não sei o que, nem ouso saber. Aliás, já ousei. Tanto é que um dia perguntei a um desses homens, negro e forte, de voz firme quase determinante que apertou a campainha da minha casa: –“Porque o senhor vive andando e pedindo comida, se sujeitando a tantos ambientes hostis, se pode ser mais fácil voltar para sua terra e procurar um trabalho? Enfim, não ter que se submeter aos caprichos da sociedade e dela depender. Ele, simplesmente, respondeu:– “Estou apenas cumprindo uma missão”.
Novamente fiquei a pensar nesses homens, pelo menos nos que conheci, ou melhor, nos que vi caminhando para um lado ou para outro nas estradas. Não estavam a culpar a sorte, tampouco a se queixar de Deus ou pessoas, e apesar de dependerem da comida de cada dia dos outros, não procuravam encosto em ninguém, iam e vinham com um ar introspectivo, deixando fora deles o mundo de fora.