Um Velho Sábio foi encontrado num bosque por um garoto chamado Pedrinho. Pedrinho se interessou em bater um papo com ele, passando a chamá-lo de vovô. Pedrinho estava sempre querendo saber de tudo que envolve a vida de uma pessoa. Então, numa conversa que já durava mais de meia hora, perguntou ao Velho Sábio:
– Vovô, como eu faço para encomendar uma história de vida para mim? Meu pai sempre fala que a gente precisa ter uma boa história.
– Como? Não compreendi muito bem o que você está me falando, garoto. Explique melhor!
– A gente pode encomendar de tudo não é?
– A gente encomenda doces para o natal, para aniversários; encomenda roupas e até um carro novo, basta que para isto tenhamos dinheiro, meu jovem.
– Mas meu pai pode pagar. Ele paga tudo que eu quero comprar.
– Tire isto da cabeça mocinho! Nem tudo na vida pode ser comprado.
– Mas criar eu posso, não posso?
– Também não!
Pedrinho, intrigado com as negativas do Velho Sábio, ficou por ali um tanto quanto calado, com uma boa dose de raiva e desejo de responder mal àquele senhor.
Claro que, com a sabedoria que o Velho possuía, notou que o menino estava muito frustrado e lidar com a frustração não era fácil para ele.
Pedrinho, então, fez um apelo:
– Me diga então como devo fazer para ter uma boa história de vida, já que o dinheiro de meu pai não pode comprar um bom futuro para mim!
– Vou lhe fazer algumas perguntas, se você me responder com segurança, posso repensar minhas respostas.
– Então faça Vovô! Prometo que vou responder todas elas, já que sou um bom aluno e só tiro notas boas. Mas meus pais nunca aceitam menos que nove no boletim.
– Então me responda:
– Pensei que o Senhor soubesse mais das coisas. Disseram-me que um Velho Sábio sabe de tudo!
– É verdade que sei muitas coisas, mas ainda não amadureci o suficiente para saber o futuro, menos ainda para pegar a empreitada que você deseja me dar. Olhe bem para mim! Tá vendo as minhas rugas? Meus cabelos brancos? Minhas falhas dentais? Minha barba comprida? A curvatura de minha coluna? Minhas pernas já ligeiramente cambaleantes? O grau dos meus óculos e minhas respostas muito pensadas – prudentes? Pois bem, se você conseguir viver o que eu vivi, vai ficar assim como eu: possuir tanta sabedoria que vai ter a mesma dificuldade que tenho para carregá-la.
– É só isto que o Senhor sabe?
– Não! Sei também que uma história de vida, isto que você deseja comprar como seu pai compra as coisas que satisfazem seu desejo, ainda não sei como comprar. Primeiro é preciso viver. Só assim você vai poder olhar para trás, como eu faço agora, para quantificar e qualificar suas experiências, para um pouquinho mais tarde poder escrever uma história de vida feia ou bonita. A posteriori você próprio poderá fazer sua avaliação.
– Posteriori! Nem mesmo sei o que é posteriori, como vou saber o que fazer para adquirir esta coisa que meu pai tanto fala?
– Agora devemos parar com este papo, meu garoto, porque a priori já sei que para minha longevidade aumentar preciso descansar mais cedo.
– O Senhor pode explicar melhor, Vovô?
– Não! Tenho que ir embora, e acho que você também precisa ir para sua casa, dormir, conservar sua saúde, para viver muito e observar a vida, para quando atingir minha idade poder ver que historia de vida você construiu.
– É muito difícil!
– Não é fácil mesmo, mas não desanime! Ah, e se alguém quiser lhe vender uma história de vida, não compre, porque estão vendendo muitas histórias de vida e muitas outras coisas falsas por aí.
OK