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01/jul/2018

OS PICA-PAUS - dois momentos da mesma história

Autor(a): Jason Frutuoso

OS PICA-PAUS – dois momentos de uma história.

Eu que critico tanto os homens - consequentemente a mim mesmo - tive a oportunidade de ver nesta história, o quanto em falta sabedoria nos falta, quando o assunto é natureza.

Maio de 2017:

O menino abre sua janela e vê um casal de pica-paus pousados numa árvore. “o que eles estão fazendo ali?”, indaga.

“Eles estão escolhendo o local para a construção da casa/ninho”, responde o pai.

Com algumas bicadas eles demarcaram o território. Eles precisavam de uma casa. “Quem casa quer casa”, diria a moça precavida.

A partir de então eles trabalharam todos os dias bicando aquela árvore, o que chamava a atenção de centenas de estudantes que passavam por ali indo para a Universidade.

 Os meses se passavam, o buraco da madeira crescia e o menino estava cada vez mais ansioso para ver o fim daquela obra.

“Será que eles vão dar conta de fazer a casa nesta madeira dura?”, pergunta ao pai.

“Os pica-paus são experts em cálculos. Você ainda não percebeu como aquele buraco está profundo?”, retruca o pai.

A fêmea põe os ovos que começam a ser chocados.

Visitas de outros pica-paus eram frequentes. Pássaros de outras espécies eram rechaçados por eles.

 Agora um deles permanece no ninho o tempo todo e de vez em quando chama o outro para o justo revezamento no trabalho de chocar os ovos.

Nascem os filhotes.

A labuta é grande e a algazarra também.

Os dois primeiros filhotes voam e o terceiro, que nasceu prematuro, não tarda a voar também.

É novembro, a chuva chega com ventos fortes e o galho que sustenta o ninho é derrubado ao chão. Ainda bem que eles já haviam deixado o local. “A natureza é perfeita! Nela os seres se entendem”, disse o menino.

 Os pica-paus voltaram, pousaram na parte que restou daquele galho quebrado e choraram.  Repetiram este ritual por várias vezes.

O desfecho, embora ruim, foi favorável aos pica-paus, pois todos saíram com vida antes da tempestade.

Maio de 2018:

Como no ano passado, o menino abre a janela e vê o casal de pica-paus pousados na árvore. Com a experiência que já possuía, ele imaginou que tudo terminaria muito bem.

Os pica-paus bicaram a madeira para a demarcação do território da futura casa.

Eles Trabalharam duramente na construção do buraco em um galho que a natureza poupou no ano passado.

Após um mês e meio de trabalho chegaram os homens do governo do distrito federal. Eles são jardineiros que não aprenderam a preservar a vida dos pássaros, mas apenas a derrubar árvores. As árvores são residências dos pássaros e de outros bichos. Portanto, derrubando as árvores, também derrubam vidas.

Numa bela manhã o menino escutou o barulho de uma motosserra. Era muito cedo. Ele abriu a janela para negociar com os jardineiros infiéis, mas o barulho era muito grande e ninguém escutou o que ele disse.

A árvore foi ao chão, não sobrando mais nenhum espaço para os pica-paus reconstruírem a casa.  

OS PICA-PAUS FORAM EMBORA E O MENINO NÃO ACREDITA QUE ELES VOLTARÃO UM DIA. “FOI TUDO MUITO ASSUSTADOR PARA BICHOS TÃO INDEFESOS”, DISSE O MENINO.

 RESUMO DA ÓPERA:

A NATUREZA SE ENTENDE COM SUAS CRIATURAS, MAS NÓS, EMBORA SEJAMOS TAMBÉM PARTE DELA, NOS ACHAMOS INTELIGENTES DEMAIS PARA NOS ENTENDERMOS COM OS BICHOS.

Mesmo sem muita crença, o menino ainda abre a janela de vez em quando pensando em encontrar os pica-paus.

 

 

 

 
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