Por mais estranho que possa parecer, existe uma relação entre estes três.
Se uma visita chegar à sua casa você, como bom(a) mineiro(a) que é, vai oferecer-lhe um café e, se houver mais tempo, vai servir-lhe também uma boa limonada.
Café combina com pão de queijo e com uma infinidade de outras guloseimas como biscoito, queijo, bolo, broa de milho, etc... – Só de falar dá água na boca.
Mas se você se esquecer de colocar açúcar no café, com certeza irá pedir desculpas para o(a) amigo(a) e em seguida adoçar o café. A menos que ele(a) goste, como minha mulher, de tomar o café sem a adição de açúcar ou de outro adoçante qualquer – coisa rara. Por outro lado, se você se esquecer de colocar pó – o amargo pó – você vai ser também alvo de críticas, porque quase ninguém gosta de saborear uma água doce, a menos que tenha a necessidade de se acalmar – coisa rara em visita de cortesia.
Com a limonada acontecerá a mesma coisa: só caldo de limão com água é muito ácido, e açúcar com água é só água doce.
Há quem goste de chupar limão, mas é coisa tão rara quanto gostar de tomar café sem açúcar. O ato de visitar amigos não sugere beber água com açúcar – água doce.
Mas você pode me perguntar: “O que a criança tem a ver com isto?”
Nem que seja de longe, é comparável, porque se as visitas chegarem em sua casa e se depararem com uma criança destemperada pelo excesso de amor ou por uma estúpida rigidez educacional, certamente vai fazer comentários não bons quando forem para suas casas.
– Hum! Que menino mal educado!
– Concordo com você comadre, ele é mesmo insuportável.
Em nenhum momento os pais dão limites para aquele pestinha.
(Neste caso as visitas bem que aceitariam a tal água com açúcar).
Sobre o café e a limonada sem açúcar, haveria como racionalizar:
– Deve ser porque ela ficou muito tensa com nossa chegada comadre, por isto se esqueceu de colocar o doce (Nós mineiros às vezes chamamos açúcar e rapadura de doce).
Se as visitas passarem a maior parte do tempo em nossa casa vendo o Joãozinho apático e temeroso, farão também seus comentários.
– Cê viu comadre, que meninozinho sem energia e abobalhado?
– Vai ver que é o jeito de educar, comadre. Cê não viu que só do pai dele chegar o pobrezinho ficou tremendo?
– Filho, de todo jeito que fizer dá problema, né?
Então, podemos comparar os três – menino, café e limonada – pela quantidade dos ingredientes que recebem.
Podemos, pelo menos hipoteticamente, dizer que no menino do primeiro relato colocaram amor demais – açúcar demais – e não puseram no tempero nem um pouco de limites, regras, leis, seja lá o que queiram chamar. Faltaram-lhe as frustrações.
No menino do segundo relato, excederam nos castigos, na rigidez e impuseram-lhe leis demais – limão e pó de café em excesso. Se esqueceram da pitadinha de açúcar.
Segundo o renomado médico francês René Spitz, mestre em desenvolvimento infantil e na relação pais e filhos, amor e frustração possuem o mesmo valor.
“Água demais mata a planta”, já diziam nossos antepassados. E de menos também.