Você se lembra daquele tal Prometeu? Aquele que teve acesso ao segredo do fogo, ou melhor, obteve ilicitamente o domínio do fogo. Você se lembra do que ele fez com o fogo? Você se lembra também do que ocorreu com ele? Talvez ainda não tenha lido essa história da mitologia – Ela é da mitologia grega – Leia um pouco da história desse mito.
Mas por que estou discorrendo sobre mitologia, Prometeu, etc? Talvez porque seja eu também um pouco mitológico ou porque, naturalmente, seja o homem composto de elementos que o levaram a inventar esta história de mitologia, pensar e escrever sobre os mitos e até cultuá-los.
O homem foi capaz até de dar nome a cada um de seus impulsos, tendências, desejos, seja lá que nomes dêem a esses elementos que costumam viver travando verdadeiros conflitos dentro dele, e que, como um kaleidoscópio, passam a vida ganhando novas configurações a cada momento.
Citei Prometeu, para mostrar que o homem quando está no poder prestes a auferir certas vantagens, ele perde a razão e esquece as regras do jogo. Claro que não podemos generalizar tanto, porque no Congresso Nacional temos alguns políticos que despertam em mim o desejo de abraçá-los.
Mas talvez seja melhor falar da “Sociedade dos Políticos Mortos” porque, se conseguiram ao longo da vida política não cometerem grandes erros, a condição de finados os impedirá de fazê-lo. Vai aqui um bom representante deles – Nelson Carneiro – sobre quem um dia comentei com um assessor parlamentar sobre seus bons modos e lamentei não ter tido a oportunidade de abraçá-lo. Aliás, os políticos recebem mais poderes do que Prometeu; recebem o fogo, e a lei sobre seu uso é feita por eles próprios. Certamente nenhuma águia irá bicar seus fígados como ocorre na história do mito, pois eles próprios fazem a lei que os salva das bicadas.
Se o povo fosse Deus, com todos os poderes, a coisa seria diferente, mas “a voz do povo é a voz de Deus” e é só. Ele apenas representa, mas não tem poderes para impor sansões. É nessa hora que o homem do fogo escapa, porque diferentemente do mito, o político que é detentor do fogo (poder), tem outro poder: o de criar a imunidade parlamentar.
E para quem sobram as bicadas da grande ave? Para quem vai o castigo? Infelizmente vai para o povo que é um mero representante que ainda não ganhou nada além de ser “a voz de Deus”. E de rapadura ao avião, tudo seduz o cidadão.
E então, o que fazer com o fogo?
Eu mesmo não sei. Não posso matar Zeus, nem as mulheres de Athenas, nem mesmo Gaia que aceitou as imposições de Zeus, nem dar forças aos filhos de Zeus, que perto do pai são crianças impotentes e o muito que podem fazer é molestar o pai na tocaia, ou pelo menos enganá-lo para que possam sobreviver. Não posso acabar com a guerra dos “deuses” porque não tenho um poder para cada um; não posso aplacar os engolidores de bebês, porque as “deusas” necessitam continuar com o status fornecido por eles. Ainda que Demeter continue ferida, um dia voltará para os braços do seu amor. Gaia jamais deixará de produzir, por mais que o céu a esquente até quase à morte com o seu sol escaldante e por mais que tiremos quase toda sua roupa, deixando apenas o biquine verde de seu manto – as tiras de matas que ainda restam. Não posso eliminar o subornador nem o subornável, porque não sei quem é mais Zeus.
E então o que fazer com o fogo?
Talvez não seja esta a pergunta e sim, como tomar o fogo dos que o detêm? Ou então deixar o fogo com seus detentores, mas estabelecer regras para seu uso.
Mas quem deve fazer as regras?
Talvez nada se possa fazer, uma vez que não há como criar uma águia que goste de bicar fígados, ou porque não é pelo fígado que se resolve o problema da consciência. Talvez com um poder “divino” pudesse criar uma ave que bicasse a mente, atingisse a consciência e não os deixasse dormir enquanto não andassem na linha; enquanto não devolvessem “a César o que é de César”(ao povo o que é do povo).
Para terminar, devo dizer que o problema não é o que fazer com o fogo, porque o homem sabe muito bem, mas como fazer para que o homem, ao usar o fogo o faça queimar apenas dentro de seus limites. O livre arbítrio não deixa claro o limite do outro.