Faz muito tempo que criei o hábito a passear pelas ruas de Brasília. Durante meus passeios, que não são poucos, procuro contemplar uma infinidade de coisas belas que a cidade oferece. Suas calçadas são sombreadas por árvores de várias espécies e, hoje, como nunca, prestei bastante atenção naquelas que dão flores.
Bem perto da quadra onde moro está uma velha sucupira branca, que de tão antiga ameaçou cair, tendo que receber uma ajudazinha dos moradores da quadra onde ela vive; há anos eles a escoraram com um grosso pontalete de madeira – aroeira, eu acho. Sua copa está totalmente coberta de belas flores cor de rosa claro.
As sibipirunas já exibem suas flores amareladas; os ipês roxos floriram em agosto, mas muitos deles estão apresentando nova floração, talvez para ajudarem a enfeitar a chegada da primavera; os ipês amarelos estão deslumbrantes com flores de amarelo intenso, sendo possível vê-los em várias superquadras da cidade – Faz muito tempo que costumo chamá-los de moços loiros do cerrado, e até já estou criando uma lenda para eles: escrevi que as árvores do cerrado são tortas de tanto se espernearem para ir ao encontro desses artistas, e que eles – os ipês amarelos – ficaram tortos por passarem a vida inteira tentando sair da base para se livrarem de tantas fãs, porque elas tornaram-se um risco para a integridade física deles.
Até o Pau-Brasil, baiano por natureza, já solta suas flores em algumas quadras e super quadras daqui, ajudando a enfeitar a Rainha do Planalto, tornando-a a mais bela cidade da estação.
Acrescento à beleza acima descrita, o canto dos maestros sabiás, a exaltação dos construtores joões-de-barro, a festa dos bem-te-vis, a beleza dos periquitos e de tantos outros pássaros que hoje, como nós, humanos de Brasília, expressam uma alegria impar, festejando a chegada de uma das belezas da vida – a primavera.
A chuva não deixou por menos, chegou junto da primavera para consolidar a beleza da cidade, o que fará com que em no máximo três dias Brasília terá transformada a paisagem acinzentada da estação que termina em um verde sem fim.
As flores cairão e é preciso olhos atentos para contemplar os belos tapetes coloridos que permanecerão por brevíssimo tempo sob as copas das árvores. Após este instante mágico da vida, ficaremos à espera da próxima primavera.