.
Enquanto Pedro dos Anjos pilotava uma lambreta pelas ruas do bairro, Xarles corria para lá e para cá buscando dinheiro para colaborar com o grupo, assim como os “mulas” ou “aviões”, como diziam; eles se desdobravam em busca de grana para pagarem a taxa de permanência no grupo. A situação era complicada: os meninos pagavam pedágio para entrar no grupo, pagavam para nele permanecer, recebendo garantia de segurança por parte do líder, e, se quisessem sair, haveriam de pagar também um certo valor para dar baixa. Mas esta situação era ainda mais complicada, porque, por mais que pagassem, sempre ficavam devendo, uma vez que a contabilidade era feita por Pedro, e Pedro era linha dura, não voltava atrás quando estabelecia uma regra. Eram regras unilaterais, e, como costumam dizer, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Ter juízo era evitar as represálias prometidas e por várias vezes cumpridas por Pedro.
Pedro assumia uma postura de um verdadeiro ditador, nunca dispensava tempo para dar importância às pequenas coisas das quais um jovem de sua idade costumava compartilhar; era um adolescente travestido de adulto e não era um adulto qualquer. Na presença do grande público, ele era um perverso dissimulado; e um tirano, quando se encontrava em seu território no comando de seus liderados.