Em lugar da alvorada musical, o dia do casamento de Marcela iniciou-se com uma grande queima de fogos, o que foi repetido na hora do almoço e após o casamento. A data serviu para o reencontro entre parentes e amigos; diversos deles, que há muito tempo não se viam, fizeram da ocasião um momento para matar saudades e colocar os assuntos em dia. Seguindo a tradição do interior mineiro, o almoço ocorreu mais cedo do que costumamos ver hoje. Às onze horas da manhã, um batalhão de voluntários juntou-se aos cozinheiros oficiais e com eles colocaram a comida sobre a mesa para ser saboreada antes do meio-dia. Além da tradição do lugar, eles seguiam o sistema de seu Luiz que, como já vimos, era extremamente rígido com as questões de horário.
Após a cerimônia, o casal embarcou no jipe do senhor Willian e seguiu rumo ao ponto da Rodovia Rio-Bahia, local onde passava o ônibus para Belo Horizonte. Era da capital de Minas que saía o ônibus para Lambari, onde Marcela e Joseph permaneceram por sete dias. Após o longo recesso viajaram para a cidade de Granada, terra natal de Joseph, onde passaram os dois primeiros anos de casados. Após esse período foram morar em Chapada Grande, onde Joseph se estabelecera como consultor imobiliário. Agora casado e com o desejo de cumprir o novo compromisso do qual se encarregara, voltou às tarefas do cotidiano com ar de felicidade no rosto. Também a jovem esposa não cabia em si de tanta alegria e certa estava de que assim viveria por toda a vida. Repetiria, diariamente, a rotina de dona de casa e cumpriria o papel que assumira no dia do casamento. Levaria a sério a promessa de amor eterno ao jovem Joseph. Também jurara para si mesma constituir uma das mais felizes famílias do universo, quando dissera sim à ordem do padre: “amar e ser fiel na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”; além do mais, havia a bênção do “crescei e multiplicai”.
Começa a rotina do casal e o tempo parece pouco para Marcela que está sempre esperando chegar o fim de semana para estar mais tempo com o marido. A vida parece um convite a que tudo ocorra como o casal havia planejado durante o tempo do namoro e do noivado. A vida está sendo vivida no paraíso. Há momentos em que a jovem mulher chega de mansinho e, disfarçada, à porta de entrada da sala de trabalho de Joseph, passa alguns minutos sem que ele a perceba olhando-o com admiração: é o presente perfeito que a vida lhe dera. Certo dia, ao se voltar para pegar seu material de trabalho, Joseph se depara com Marcela de olhos “compridos”, fitando-o, e então lhe disse: “Quando você fica me olhando assim, me deixa acanhado, acho que até vou errar meu trabalho”. Ela, na pura simplicidade, responde: “Erra não, bobo, você é o mais inteligente de todos os homens. Preciso te olhar para acreditar que sou mesmo a mulher de maior sorte desta terra”. Por um instante, Joseph apenas olha de forma profunda nos olhos da esposa, mas logo beija-a, apertando o rosto contra seu peito, de forma carinhosa. Naqueles pequenos encontros ia se consolidando o contrato assinado e falado no dia do casamento. O casal ia aos poucos desbravando o desconhecido e abrindo a longa estrada da vida familiar.