Buscar no site

27/fev/2009

A primeira infância hoje

Autor(a): Jason Jair Frutuoso

Tudo começa com o desejo. Desejo compartilhado do casal que se une para ter um filho – e como é bom para o filho ser desejado!

É na união do casal que se inicia a construção do lugar, no qual o bebê será recebido.

Jocob Levy Moreno (criador do psicodrama), chamou esse lugar de Matriz de Identidade, sendo esta matriz parte de um conjunto de fatores que vai pré-dispor a criança à saúde ou à doença.

O noivo foi bem recebido pela família da noiva? E a família do noivo, como recebeu a noiva? O filho foi desejado por ambos os pais? Como é a relação do casal? Como foi a relação do casal à época da gestação? A mãe teve problemas de saúde? A saúde do pai, como estava? E o pré-natal? Como foi a comunicação da mãe com o filho no ventre? Como a família se organizou para receber o bebê?

Acima estão alguns questionamentos que precisamos fazer ao recebermos uma criança para avaliação de seu estado emocional e para avaliarmos se ela está em um grupo com risco de desenvolver uma psicopatologia.

Além de Moreno, Freud, René Spitz, Margareth Mahler e Melanie Klein realizaram grandes pesquisas sobre o desenvolvimento humano, chegando a conclusões semelhantes. Nenhum teórico discordou do que disse Freud em sua série complementar: “Fatores constitucionais (genéticos), as primeiras relações e as relações posteriores predispõem a criança à saúde ou à doença”.

Esses fatores nunca mudaram ao longo da existência humana e embora muitas vezes não percebidos, foram necessários à primeira infância de ontem, de hoje e o será à de amanhã.

"Então, qual é a diferença entre primeira infância do passado e a de hoje?" – alguém perguntaria.

Antigamente as mães se dedicavam quase exclusivamente aos filhos, hoje a dedicação delas ocorre em tempo parcial e muitas vezes a relação é estabelecida de forma precária, devido às longas horas de trabalho em atividade específica e outras tarefas que ela se vê obrigada a desempenhar neste mundo que passou por uma revolução industrial e tornou-se muito desenvolvido e globalizado.

Com isto aumentou o número de creches, maternais e jardins da infância e, enquanto as famílias de outrora conviviam com as babás que permaneciam com seus filhos até a idade adulta deles, as mães de hoje se vêem obrigadas a contratar pessoas muitas vezes desconhecidas, quando, por razões financeiras não conseguem colocá-los nas referidas instituições.

Tais artifícios nem sempre correspondem a expectativa da família e às necessidades das crianças, transformando-se, algumas vezes, em mais um fator gerador de psicopatologias.

Para amenizar um pouco mais os problemas da díade, criaram a licença maternidade, mas se ela resolve em grande parte o problema alimentar, não resolve totalmente outros problemas que poderão surgir pelo fato de a mãe se separar de seu bebê na fase simbiótica, momento em que o bebê estabelece um caso de amor com a mãe  – na referida fase o ego do bebê e o da mãe são confluentes e quase se confundem; ele ainda conserva traços da fase anterior (autismo normal), quando ainda não conseguia diferenciar o eu do não eu, mãe e mundo, etc...

Bom seria se a mãe pudesse se separar do bebê quando ele tivesse 36 meses, final da “fase de separação e individuação”, termo utilizado por Margareth Mahler, que indica que a criança já estruturou sua identidade. E Donald Winnicott, muito sabiamente disse que uma criança que tem seu mundo interno bem estruturado, permanece tranqüila mesmo quando o mundo  externo esteja turbulento.

Não podemos ser contra o desenvolvimento tecnológico na medicina; sem ele muitos bebês morreriam. A tecnologia tem contribuído para a cura e prevenção de doenças, mas ela não substitui a adequada relação pais e filhos, especialmente a relação mãe-bebê.

Portanto, podemos afirmar que a primeira infância do passado e a primeira infância de hoje tem suas diferenças – algumas perniciosas – mas felizmente sabemos que a criança, como ser humano que é, tem se adaptado a tais mudanças e, que a grande maioria delas, cresce com saúde, mesmo na adversidade.

Outra descoberta importante feita pelos teóricos da personalidade é que mesmo quando o tempo da relação é reduzido, a criança pode se beneficiar com uma relação de boa qualidade. Isto, de certa forma ameniza nossa preocupação.

As sofisticações hoje presentes na área de saúde para atender à gestante e as desenfreadas realizações de cesariana, são apenas complementos que dão maior conforto à mãe, mas o necessário para proporcionar o ajuste emocional no bebê continua sendo a simplicidade das relações familiares, e principalmente a relação triádica pai-mãe-criança – hoje preconizada nos melhores centros de estudo do desenvolvimento humano como comprovadamente a mais eficaz.

Em um tempo bem longínquo, quando ia para o trabalho, dirigindo todos os dias por uma distância de 30 quilômetros, costumava ouvir a Rádio Capital e, todas as manhãs o Jornalista Alexandre Cadunc dizia coisas mais ou menos assim: “Os índios, antigamente viviam nus nas florestas brasileiras, não tinham dinheiro, mas se sustentavam através da caça, da pesca e com  suas pequenas plantações; seguiam as leis próprias das tribos e eram muito felizes”. E concluía:  “PORQUE A FELICIDADE É SIMPLES”.

 
Design: Fábrica de Criação   |   concrete5 - open source CMS © 2022 Jason Jair Frutuoso.    Todos direitos reservados.